Durante o feriado do Carnaval, enquanto parte considerável dos brasileiros corria atrás do trio-elétrico ou ensaiava passos nem-tão-tímidos ao som daquele mais novo hit do axé baiano, o Rhine Research Center publicou o mais recente volume do seu periódico científico, o Journal of Parapsychology.
Em um dos artigos ali apresentados, os pesquisadores Lance Storm (Faculdade de Psicologia da Universidade de Adelaide), Patrizio Tressoldi e Lorenzo di Risio (ambos do departamento de Psicologia Geral da Universidade de Padova) divulgaram os resultados do mais recente estudo que realizaram sobre a questão da percepção extra-sensorial.
Usando a ferramenta da metanálise - método estatístico que envolve a análise combinada dos dados obtidos em diferentes estudos realizados sobre um mesmo tema, e que ajuda a verificar, entre outras coisas, o “tamanho” de determinado efeito observado – os cientistas analisaram os dados obtidos em mais de 90 estudos sobre precognição, clarividência e telepatia, realizados em laboratórios independentes e publicados em periódicos científicos entre os anos de1987 e 2010
De modo a homogeneizar a amostra, foram incluídos na investigação apenas experimentos realizados no formato “escolha forçada”1, realizados com seres humanos, que tiveram um mínimo de dois sujeitos de pesquisa e cujo processo de randomização tenha sido realizado sem a participação direta de um experimentador ou participante.
Os dados levantados apontaram um total de 812.626 tentativas, que resultaram em 221.034 acertos. Em um resultado condizente com investigações anteriores 2, a metanálise indicou a existência de um efeito psi pequeno, mas estatisticamente significativo, de 0,01 (Z = 4.86; p = 5.90 x 10(-7))
Os resultados discutidos no paper sugerem que estudos baseados em escolha-forçada tendem a produzir um efeito “psi” consistente, bastante acima do que seria esperado pelo simples acaso. Indicam, também, que o fenômeno observado aparentemente não constitui um artefato nem se deve a um desenho de pesquisa falho ou descuidado.
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símbolos do Baralho Zener, um dos mais famosos exemplos de experimento do tipo "escolha-forçada" |
Também foi relatada uma aparente tendência de incremento no efeito psi ao longo do tempo, ou seja, o tamanho do efeito observado nas pesquisas de PES parece estar aumentando, de maneira linear, ao longo dos anos. Trata-se de um elemento interessante quando consideramos a constante evolução dos desenhos de pesquisa utilizados em parapsicologia ao longo das décadas, que nada devem em rigor ás ciências tidas como convencionais, como a medicina e à biologia.
É claro que ainda há muito a ser entendido a respeito do fenômeno psi. Seu mecanismo de ação é certamente uma incógnita, e eventuais possibilidades de uso industrial ainda não passam de mera especulação.
Ainda assim, parece cada vez mais difícil negar, com base em evidências de pesquisa, a existência desse fenômeno fugidio que ora denominamos “psi”. Após cento e trinta anos de investigações, e embora desacreditado pelo “mainstream”, ele insiste em se mostrar como real. Pequeno, é verdade, mas incomodamente real.
Seria o psi a base da próxima revolução científica? Aguardemos as cenas dos próximos capítulos...
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1. Experimentos de escolha-forçada são aquele em que os “alvos” a serem percebidos extra-sensorialmente são previamente conhecidos pelos participantes, e constituem um leque limitado de possibilidades de escolha. O mais conhecido exemplo, difundido inclusive na cultura popular, é a “adivinhação” dos símbolos das cartas do Baralho Zener.
2. Metanálises anteriores sobre estudos de percepção extra-sensorial também indicaram a existência de um efeito pequeno, mas consistente. Sobre o tema, veja:
- Honorton & Ferrari (1989) – “Future Telling: a meta-analysis of forced-choice precognition experiments, 1935-1987, Journal of Parapsychology, 53, 281-308;
- Tart (1983) “Information acquisition rates in forced-choice ESP experiments: Precognition dos not work as well as present-time ESP”. Journal of the American Society for Psychical Research, 77, 293-310;
- Steinkemp, Milton e Morris (1998) “A meta-analysis of forced-choice experiments comparing clairvoyance and precognition”. Journal of Parapsychology, 62, 193-218.
Oi, qual é a referência do artigo recém-lançado?
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