
Caroline Watt é uma das mais conhecidas pesquisadoras em parapsicologia da atualidade. Doutora em psicologia e autora de mais de 50 artigos científicos na área, é uma das fundadoras do
Koestler Parapsychology Unit, grupo de pesquisa associado à Universidade de Edinburgh que investiga a existência do fenômeno psi.
Caroline, que já foi presidente da Parapsychology Association, é também co-autora de uma das obras de referência na área, o livro
An Introduction to Parapsychology (Uma Introdução à Parapsicologia), adotado por instituições de ensino em diversos países.
Recentemente a pesquisadora concedeu breve entrevista ao pesquisador Richard Palmisano, diretor do instituto de parapsicologia canadense The Searcher Group. Nela a autora dá dicas sobre a formação do pesquisador em parapsicologia, fala sobre carreira acadêmica na área e dá detalhes sobre algumas das pesquisas das quais participou recentemente.
Richard gentilmente autorizou a reprodução da entrevista, que segue abaixo:
Richard: Há um número grande de pessoas interessadas no estudo do fenômeno paranormal. Algumas delas estão à procura de uma boa formação na área, que possa fornecer as ferramentas intelectuais próprias para se atuar nessa linha de pesquisa. Qual seria a sua recomendação?
Dr. Watt: Filiar-se à Parapsychological Association (PA) é um bom lugar para começar. A associação tem, em seu um site, uma página sobre as oportunidades de formação em parapsicologia. Quanto à leitura, eu fui co-autora de um livro introdutório, junto com Harvey Irwin, que faz uma revisão da literatura científica da área. É um livro bastante extenso, mas informativo. Se preferir algo mais acessível, há também o meu curso online.
Richard: Você administra um curso online através do Koestler Parapsychology Unit. A quem esse curso é dirigido?
Dr. Watt: Meu curso acontece duas vezes ao ano (o próximo será em abril) e está aberto a qualquer um, de qualquer parte do mundo, que tenha acesso à internet e queira saber mais sobre parapsicologia, seja ele crente ou cético no assunto. Se algum leitor se interessar, eles podem saber mais sobre o conteúdo do curso na página do meu instituto.
Richard: Sua carreira em parapsicologia é uma inspiração para muitas pessoas. Que conselho você daria para aqueles que consideram fazer carreira na área?
Dr. Watt: Em primeiro lugar, faça uma boa graduação em uma disciplina relevante. Psicologia é provavelmente a escolha da maioria dos pesquisadores da área, mas isso vai depender dos seus interesses pessoais. Outras disciplinas interessantes são física, filosofia e antropologia. Você deve garantir a obtenção de um alto nível de conhecimento metodológico (mestrado), que seja apropriado à área pela qual tem interesse.. Familiarize-se com a literatura relevante da área, e tente se aproximar de um orientador de pesquisa que publique na área, para verificar se ele tem interesse em supervisionar um doutorado sobre este tema (é claro que, em primeiro lugar, você precisa ser bom o suficiente para poder se inscrever em um doutorado). Tecnicamente, não há doutorados em “Parapsicologia” (ao menos não em uma universidade verdadeiramente respeitável). Na verdade, a grande maioria dos doutorados se dão em áreas convencionais, como psicologia, feitos com uma tese da área de parapsicologia e um orientador com experiência na área.
Richard: Você pode nos contar um pouco sobre o trabalho que realizou sobre experiências de quase morte, e sobre a conclusão de que todos os aspectos dessas experiências tem base em respostas neurológicas?
Dr. Watt: Eu fui co-autora de um artigo científico publicado recentemente no periódico Trends in Cognitive Sciences. Se você ler o artigo, notará que sugerimos que há mecanismos fisiológicos e psicológicos conhecidos que podem produzir experiencias que são similares – se não idênticas – aos aspectos da experiência de quase-morte. O artigo sugere que podemos obter um melhor entendimento desse tipo de experiência se focarmos nesses mecanismos. Isso não é algo exatamente controverso de se dizer, mas alguns pesquisadores de EQM vão discordar acintosamente, por considerarem que a EQM seja capaz de nos dizer algo a respeito da sobrevivência da alma ou da personalidade após a morte física. No entanto, pesquisas têm mostrado que aproximadamente metade daqueles que reportam uma EQM não estavam fisicamente correndo risco de vida no momento da experiência. Isso indica que há um forte componente psicológico associado à experiência. Em muitos casos, é a percepção de que se está sob risco de vida que aparentemente desencadeia a experiência. É claro que isso não a torna menos profunda nem significativa para a pessoa que passou por ela. Tipicamente, EQMs são experiencias transformadoras, e continuarão sendo transformadoras seja quais forem as explicações por trás delas.
Richard: Por que você acha que o trabalho em parapsicologia é amplamente aceito no Reino Unido e, no entanto, tão ridicularizado nos Estados Unidos e Canadá?
Dr. Watt: Você acha que esse trabalho é realmente ridicularizado na América do Norte? O que tenho observado é que no Reino Unido e no continente europeu, pesquisadores da área tendem a se situar no ambiente acadêmico – por exemplo, em departamentos de psicologia das respectivas universidades. Dessa maneira, eles podem mostrar aos seus colegas, em primeira mão, que são pesquisadores responsáveis e cuidadosos. Isso tende a abrir mentes e portas. É como a questão do preconceito racial, que tende a desaparecer à medida em que pessoas de diferentes raças passam a se conhecer como indivíduos. Nos Estados Unidos, há uma acentuada tendência dos institutos de pesquisa serem independentes, o que acaba incentivando essa mentalidade “nós e eles” que, em minha opinião, alimenta desconfiança e desentendimento mútuo.
Richard: Que papel você acha que o ceticismo tem na pesquisa paranormal?
Dr. Watt. Depende do que você entende por ceticismo. Se está se referindo à organizações, como aquela liderada por Paul Kurtz (agora falecido) e James Radi, eu creio que, nas últimas duas décadas, eles voltaram a atenção para bem longe da parapsicologia acadêmica. Eu vejo isso como uma admissão tácita de que nós estamos fazendo uma boa ciência. Atualmente há alvos mais fáceis para grupos desse tipo, como os negadores do aquecimento global, homeopatas e criacionistas.
Agora, se você considera o sentido dicionaresco da palavra ceticismo (“questionador”) então acredito que ele seja absolutamente crucial à parapsicologia. Se alguém faz uma afirmação, a resposta cética apropriada é perguntar “como você sabe disso?”. Parapsicólogos são geralmente seus próprios críticos, e questionamentos desse tipo levam à melhorias nos procedimentos de pesquisa.
Richard: Você pode nos falar um pouco sobre seu trabalho em sonhos pré-cognitivos?
Dr. Watt: Eu tive a sorte de obter financiamento do Parrot-Warrick Fud para investigar os aspectos psicológicos e parapsicológicos das experiências de sonhos pré-cognitivos. Parte deste trabalho debruçou-se sobre como a rememoração seletiva, a propensão a ver correspondências e a consciência implícita podem levar a um aumento na freqüência de experiências desse tipo. Eu também tenho testado a idéia de que os sonhos genuinamente são capazes de predizer eventos futuros. Até o momento não obtive nenhum suporte à essa hipótese, mas ainda estou trabalhando com isso. Mesmo se houver explicações psicológicas para algumas das experiências de sonhos pré-cognitivos, isso não afasta, logicamente, a possibilidade de que fatores paranormais possam operar em outros casos.
Richard: Você pode falar a respeito do fascinante trabalho que fez a respeito das crenças e experiências paranormais?
Dr. Watt: Um estudo em particular se baseou em pesquisa prévia que sugeria que, em alguns indivíduos, a crença paranormal poderia se desenvolver como decorrência da necessidade de se sentir em controle do ambiente Eu pedi às pessoas que tentassem quantificar o controle que sentiam ter quando pequenos (por exemplo, mudar de residência frequentemente, viver em um casa grande e caótica, ter pais divorciados, tudo isso pode levar à sensação de falta de controle em crianças). Eu descobri que aqueles que reportavam menos controle na infância também apresentavam níveis maiores de crenças paranormais. Isso não prova que os dois fenômenos estão causalmente contectados, mas suporta a hipótese de que estejam ligados de algum modo. Há também evidência de que crenças supersticiosas tendem a aparecem mais fortemente em regiões que apresentam maior risco de vida, como por exemplo em uma área sob o risco de ataques de mísseis. Novamente, crenças como essas tendem a nos dar um senso reconfortante de controle.
Richard: Você acha que pode vir a publicar um novo livro em parapsicologia no futuro?
Dr. Watt: Engraçado você ter dito isso – eu acabei de receber uma proposta de uma editora, mas ainda não posso dar mais detalhes.
Richard: Algum outro pensamento que você queira expressar para nossos leitores?
Dr. Watt: Continuem questionando!